Filosofia barata
- Vilma Aguiar
- 19 de set. de 2024
- 2 min de leitura

Vilma Aguiar (texto)
Mónica Defreitas (imagem)
Muitas vezes pensei no fracasso e no sucesso. Nas idas e voltas que a vida dá. Nos planos atropelados ou esquecidos, no amor que virou indiferença. Nas tantas coisas que quis tanto e não tive, e que depois sumiram sem deixar lembrança. Ou nas que tive e perderam importância no momento seguinte à que chegaram às minhas mãos ávidas. No desassossego que é a constante.
Que perfeita confluência do caos do mundo e a natureza do nosso desejo. Este mutável, contraditório, rocambolesco e insondável desejo, manifestando-se neste mundo da confusão, do excesso, do som e da fúria. Cada vez mais, aliás, do som estridente e da fúria extrema.
No meio disso, penso em encontrar a paz. Não a dos cemitérios, que é a da indiferença, mas uma paz que abrigue e abarque todo esse movimento incessante. A paz que combine com o desassossego, uma paz que seja também alerta. Porque paz não é distração.
Aliás, distração deixou de ser qualidade. Paulo Leminski se enganou muito. Distraídos venceremos, ele disse. Estamos muito distraídos e perdendo cada vez mais. Nossa distração de cada dia nos leva à impresença, à despresença, à não-presença. Vivendo neste limbo que não é presente nem futuro, é alienação, essa palavra que sai do armário com cheiro de naftalina mas é tão certeira que não consigo pensar em outra. Queria ser mais moderna, jogar aí um conceito vindo do Vale do Sicílio, mas a pessoa que ainda sabe usar o pronome cujo precisa falar em alienação.
São também minhas raízes marxistas que não me abandonam. Queria falar da impermanência e do desejo e acabo em sociologia selvagem.
Como são selvagens meus pensamentos. No meio dos grandes temas e nos momentos mais solenes, como não pensar na roupa que esqueci na lavadora, no farelo sobre a toalha branca ou na música-grude que volta e volta e volta.
Ela mesma é toda outra filosofia, a dos vingativos, que com traição com traição se paga. O que me leva ao tema das desilusões amorosas e das músicas onipresentes do sertanejo universitário que, além de serem sempre a mesma, uma mistura de vanerão com forró, ainda são grudes e colonizam nosso cérebro, e são libelos de comportamento irrefletido.
E dá-lhe sociologia selvagem de novo.
Os vícios, ah os vícios...
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