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O Baile: Bem-vindo

Fã-site de literatura

Do que é feito um baile?


Antes de tudo, de um desejo. Da vontade de proporcionar um encontro. Aí então os convivas, cada um ao seu modo, se apropria do espaço, dos comes e bebes, da música, companhia e de todas as demais ferramentas que estiverem à disposição. 


Assim é também nosso baile virtual: nasceu do desejo de reunir pessoas que gostamos e que, sobretudo, gostam de criar e compartilhar. No nosso caso, textos e imagens.


Nas danças vocês verão de tudo: valsas, funks, epopeias, música clássica, rock, jazz, sofrência, forró…; a depender da rotação naquela quinzena. Em princípio as duplas são fixas e ora o texto inspira a imagem, ora ao contrário. Mas como a gente sabe que num baile o calor da pista é que dita o ritmo, ao longo da nossa festa os pares também podem mudar.


De todo modo, em quem dança você pode conhecer um pouco mais sobre todos nós.


Sejam bem-vindes! Esperamos que gostem tanto quanto estamos gostando.


O baile

por Wislawa Szymborska


Enquanto ainda não se sabe nada ao certo

por faltarem sinais que cheguem até nós,


enquanto a Terra permanece diversa

dos planetas mais próximos e mais distantes,


enquanto não se tem notícia

de outros gramados agraciados pelo vento,

de outras árvores copadas,

de outros animais comprovados como os nossos,


enquanto não há eco, além do nativo

que seja capaz de falar em sílabas,


enquanto não há novas

de outros mozarts melhores ou piores,

de platões ou edisons em outros lugares,


enquanto os nossos crimes

só concorrem entre si,


enquanto a nossa bondade

até aqui não semelhante a nenhuma

e singular até na imperfeição,


enquanto as nossas cabeças repletas de ilusões

se passam pelas únicas cabeças repletas de ilusões;


enquanto apenas de nossos palatos

se elevam as vozes ao alto dos céus –


sintamo-nos convidados especiais e distintos

do arrasta-pé na praça da matriz,

dancemos ao ritmo da banda local,

e façamos de conta

que esse é o baile dos bailes.


Não sei quanto aos outros –

mas para eu ser feliz e infeliz

basta apenas:


este cafundó acanhado

onde as estrelas cochilam de tédio

e piscam na sua direção

sem querer.


[Para o meu coração num domingo. Tradução de Regina Przybycien e Gabriel Borowski. 1ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, págs. 252-255.]

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